O Folha 8, assumindo – como sempre – de corpo e alma a sua função histórica (desde 1995 damos voz a quem a não tem – os Angolanos) e génese de jornal independente e livre, escolheu as duas figuras que, em Angola, se destacaram em 2016 pela positiva e pela negativa. Marcolino Moco é a figura do ano pela positiva e José Eduardo dos Santos pela negativa.
Neste balanço, ao contrário de outros que nunca erram, o Folha 8 sabe que ainda não conseguiu levar a Carta a Garcia. Mas, na certeza de que não há comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar, continuará a tentar. Custe o que custar, cá estamos na frente de combate.
Esta tese não se aplica, reconhecemos, ao regime de sua majestade o rei José Eduardo dos Santos que, como se sabe, não comete erros e não ajuda a cometer erros. Daí a justa designação de ele ser o “escolhido de Deus”.
Como nós somos apenas simples mortais, resta-nos a missão de lutar para que Angola seja um dias destes (quem sabe se não será já em 2017) uma democracia e um Estado de Direito. Não será fácil, mas é possível.
Até lá, porque a luta continua, não daremos tréguas aos que não conseguem esquecer o passado – mesmo que recente – e fazem dele um fardo tão pesado que muitas vezes os impede de caminhar para a frente, de forma erecta. Os angolanos (os únicos a quem devemos explicações) merecem o nosso esforço e dedicação. São um nobre Povo que, apesar de 20 milhões sobreviverem na miséria, continua erecto e disposto ir de derrota em derrota até à vitória final.
Para 2017, ano de grandes desafios que exigem de todos nós tudo o que de melhor possamos dar, os desejos são muitos e muitos deles, sabemos bem, não serão satisfeitos, por uma ou por outra razão. Ou seja, porque a razão da força do regime impede o triunfo da força da razão do Povo.
Um desses desejos, talvez o que mais impacto poderá ter no futuro imediato de Angola, é o de que o percurso que há 41 anos falta cumprir (Estado de Direito democrático) tenha este ano pelo menos os primeiros indícios.
Um outro desejo tem a ver com a necessidade das diferentes instituições agirem de acordo com a lei (algo que nunca aconteceu), respeitando-a plenamente para que a palavra “cidadania” tenha o devido valor civilizacional.
A justiça angolana ainda não deu (pelo contrário) suficientes provas de maturidade, de competência e de independência política, o que nos leva a acreditar, sem qualquer hesitação, de que continuará a desempenhar o seu papel de modo domesticado e canino, mesmo sabendo que isso contraria os princípios da verdade e da legalidade.
Também gostaríamos que, em 2017, o discurso político do regime/MPLA fosse mais inclusivo, sobretudo porque é uma organização (na prática é mais uma seita) que domina o país há 41 anos. Não vai acontecer, é certo. O seu principal argumentário baseia-se na imposição da única lei que conhecem: quero, posso e mando.
Gostaríamos, também, que o ano de 2017 desse frutos (mesmo que ainda embrionários) no sentido de se apostar na diversificação da economia nacional, uma vez que essa é uma condição incontornável para combater a crise que nos entrou pelo país dentro. É, aliás, uma estratégia defendida há décadas por quem usa a cabeça para… pensar.
É tempo daqueles que trabalham para sua majestade o rei José Eduardo dos Santos, e que são pagos com o dinheiro roubado aos angolanos, perceberem que, por muito que tentem e se esforcem, Angola deixará um dia de ser um reino esclavagista.
É evidente que o Povo angolano não têm nada a ver com aquilo que é o sonho, a vontade e a prática neocolonialista que o MPLA leva a cabo, há 41 anos, sobre Angola.
É neste contexto que Marcolino Moco sobressai pela positiva e José Eduardo dos Santos pela negativa. Vejamos, entretanto, o que pensam algumas personalidades sobre esta escolha do Folha 8.
Paulo de Morais
(Professor Universitário e ex-candidato às eleições presidenciais em Portugal)
MARCOLINO MOCO NÃO PODE VIRAR AS COSTAS AO DESAFIO
“E duardo dos Santos já entrou para a História: a História da tirania e da corrupção mundial.
Lidera, há quase quarenta anos, um dos países mais afortunados do mundo em matéria de riquezas naturais. Mas os angolanos continuam pobres, a mortalidade infantil é das maiores do mundo, a alfabetização não chega, o desenvolvimento é uma miragem. Enquanto isto, a família de Eduardo dos Santos é das mais ricas do mundo, a sua filha Isabel é a mulher mais rica de África, e todos os seus familiares beneficiam de privilégios ilimitados. A sua imunidade vai ao ponto de a sua irmã Marta ter obtido centenas de milhões de crédito junto do BES Angola, sem as correspondentes garantias.
À volta da família (imperial) de Dos Santos, alguns generais dispõem de um enorme poderio económico, financeiro e militar. O território foi retalhado e dividido pelos lacaios mais próximos de Eduardo dos Santos: terras imensas foram distribuídas numa lógica feudal, concessões petrolíferas e diamantíferas foram atribuídas aos mais próximos do presidente. Com as fortunas acumuladas, esta classe dirigente angolana adquiriu um património imenso no exterior, com especial incidência em Portugal, beneficiando da conivência de políticos portugueses cúmplices dos mais diversos partidos.
Adquiriram imobiliário de luxo, participações nas maiores empresas de construção, Bancos e até comunicação social. Alguns angolanos protegidos do regime de Eduardo dos Santos dispõem hoje de uma capitalização bolsista considerável em Portugal. E enquanto isso, o povo angolano sofre, as crianças morrem nas ruas dos subúrbios de Luanda.
Eduardo dos Santos deve ser destacado como um dos maiores tiranos de África. Quando tomou posse como presidente, Angola tinha um enorme potencial. Tivesse Eduardo dos Santos sabido aproveitar os apoios internacionais em prol do seu povo e os angolanos poderiam hoje dispor de um bom sistema de saúde, de escolas modernas, de universidades, de cidades bem geridas, de agricultura de ponta, turismo de qualidade, uma cultura distintiva e robusta… Mas, a contrariu, o único sector que verdadeiramente se desenvolveu foi o da corrupção de Estado ao serviço das famílias do regime.
A nível internacional, o presidente angolano encontrou os piores parceiros, associou-se aos maiores tiranos. Tentou transformar a Comunidade de Países de Língua Portuguesa numa organização de produtores de petróleo, encostando-se a Dilma Roussef e ao ditador Obiang da Guiné Equatorial, manipulando o timorense Xanana e subjugando são-tomenses e guineenses – tudo isto com o beneplácito dos seus cúmplices portugueses, do CDS de Paulo Portas, ao Partido Comunista de Jerónimo de Sousa. Associou-se aos chineses mais corruptos como Sam-Pa nos negócios do petróleo. Esteve na génese do maior escândalo financeiro português, o BES.
Os angolanos não devem perdoar ao seu presidente da República. Porque Eduardo dos Santos extorquiu-lhes todas as suas riquezas, mas sobretudo porque lhes roubou o seu futuro.
O destino de Angola é hoje, mais do que uma incógnita, uma certeza de fracasso e pobreza. Há pois que inverter este caminho que leva Angola para a pobreza irreversível. Urge que, dentro e fora do regime, surjam vozes que levem à descoberta de um novo caminho. Destas destacam-se, naturalmente, Rafael Marques, William Tonnet, Luaty Beirão, os oposicionistas do CASA; e, na esfera do MPLA, Lopo do Nascimento, que vem, de forma tíbia é certo, denunciando a corrupção e, com mais vigor, mais juventude e força, Marcolino Moco.
É com homens como Marcolino Moco que Angola tem de arrancar para um outro futuro. Só homens amantes mais do seu povo do que do poder ou dinheiro, poderão desviar Angola do percurso suicida em que se encontra esta comunidade colectiva. Angola necessita de uma Perestroika à africana, liderada por um novo Gorbatchov que mude o rumo político deste que é um dos mais belos e ricos países do mundo. Esta mudança de rumo tem de ter lugar sem violência ou guerra, sob a tutela de uma comissão internacional do tipo da “Verdade e Reconciliação “que Mandela instituiu na África do Sul.
Cabe a pessoas com vontade, vigor e perseverança e autoridade política encontrar os caminhos do futuro de Angola. Marcolino Moco, face às posições críticas que vem tomando face ao poder vigente, e a par dos mais desassossegados do MPLA, não pode virar as costas a este desafio.”
Emmanuel Nzita
(Presidente da FLEC/FAC)
AO CONTRÁRIO DE DOS SANTOS, COM MARCOLINO MOCO O FUTURO É POSSÍVEL
“A nossa leitura à escolha do Jornal Folha 8 é também uma apreciação positiva sobre a escolha positiva de Marcolino Moco, não apenas como um ex-primeiro-ministro mas também sobre a sua carreira política e a sua postura de Estadista que, aliás, não é algo de novo.
As suas diversas intervenções nas redes sociais, em jornais independentes e na imprensa em geral mostram que é um político aberto à sociedade, atento às questões políticas e sociais do continente em geral e de Angola em particular.
Marcolino Moco é um homem do Povo e do público que domina perfeitamente as meandros da sociedade em que vive, e que conhece também o trajecto insensato que o seu partido escolheu para levar o país para um caos total.
O que é muito positivo em Marcolino Moco é o facto de ter compreendido a tempo com alguns camaradas do seu partido, as grandes mudanças geopolíticas que ocorreram no mundo após a queda do Muro de Berlim, e, especialmente, com a sua experiência vivida no seio da CPLP.
Marcolino Moco abraçou a cultura democrática como um modelo político que une as pessoas para o desenvolvimento, a emancipação, a paz, o progresso e a justiça social.
É um dos poucos políticos cuja visão da governança pode criar um consenso político real para a paz social em Angola, pelo seu carácter humanista e a aberta ao diálogo, essa é a análise que faço deste Homem.
Quando a José Eduardo dos Santos, sem ser desagradável e apesar do conflito Angola/Cabinda, certamente que os leitores do Folha 8 vão provavelmente concordar comigo que ele perdeu todas as oportunidades políticas que poderiam fazer dele um grande homem entre os grandes homens da África…
Ele perdeu a oportunidade de se tornar um grande exemplo de democracia na África do Sul, em Angola, na África e na região dos Grandes Lagos, especialmente após a morte de Mobutu, de Jonas Savimbi e de Nelson Mandela…
Perdeu a oportunidade de fazer de Angola um gigante democrático e económico em África, apesar do seu estatuto de segundo maior produtor Africano de petróleo, grande produtor de diamantes e madeira… mas brilhou como força de desestabilização de regimes democráticos, e tomou parte activa em todas as guerras na sub-região (nos Congos) e até na Costa do Marfim.
E hoje ninguém duvida sobre a natureza autoritária do seu poder, e do estado em que mergulhou a economia de Angola para não falar de Cabinda.
José Eduardo dos Santos que gosta de falar e incentivar a prática do diálogo em países onde ele próprio participa em semear a dúvida e caos, nunca tentou dialogar “com seu próprio povo nem com a sua própria oposição”.
José Eduardo dos Santos será certamente lembrado no mundo como um dos muitos ditadores que marcaram o final do século 20 século e início do século 21.”
Mário Mota
(Jornalista e Editor do Site Página Global, entre outros)
SEMPRE NA DEFESA DOS ANGOLANOS
“A escolha de personalidades que no ano de 2016 sobressaíram pela positiva ou pela negativa será sempre controversa, nunca terá a simplicidade que encontramos num cesto de fruta sã e fruta podre ou pelo menos tocada.
Imaginemos que escolheria duas personalidades com intervenções em Portugal: positivo seria António Costa por via da Geringonça (que até foi palavra do ano). Geringonça que está a fazer o possível por recuperar tanto que os portugueses perderam ao longo da (des)governação de Passos Coelho. O mais negativo seria Cavaco Silva por via de ainda ter ocupado a presidência da República por quase 3 meses em 2016 e tudo ter feito para tramar o país e a democracia. Mas não só por esses três meses de 2016. Também e principalmente por ter tramado Portugal e os portugueses ao longo de quase duas décadas. O melhor é não estender mais este lençol porque ainda dará texto para um livro.
A nível internacional imaginemos que escolheria personalidades angolanas (que tudo tem que ver com o F8, jornal que muito prezo). E aí escolheria por positivo um todo que é a personalidade de Angola: os angolanos.
Com a objectividade assente numa personalidade angolana o positivo cabe em quem por várias vezes já “roubei” textos que inseri nas minhas andanças na blogosfera: Marcolino Moco. Um político angolano que já foi primeiro-ministro, que creio ainda fazer parte do MPLA, mas que se opõe a algumas das políticas levadas a cabo pelo actual poder angolano no que se refere à falta de transparência do regime, à corrupção institucionalizada, à repressão de opositores e à liberdade contestatária.
Marcolino Moco tem dado a cara, abertamente, com a lealdade que tem por objectivo a democratização mais abrangente e efectiva do país. Tem sido uma voz activa que revela procurar obter para Angola e, consequentemente, para os angolanos, a via política em que tendências ditatoriais ou obscuras soçobrem e dêem lugar a debate, maior abertura, tolerância com o compromisso dessas características serem o pomo de concórdia e melhoria de condições de vida dos angolanos.
Afinal, algo que é característica da esquerda democrática, dos efectivamente democratas. Tal não implica por sistema que Angola se abra à devassa da selvajaria e ganância global, nem à selvajaria e ganâncias de alguns nacionais a nível interno.
Por negativo escolheria a personalidade que é o topo dos poderes em Angola – Eduardo dos Santos – e que já lá está a mais por via dos demasiados anos que detém esses poderes, parecendo até que tem por intenção bater o recorde do ditador português Oliveira Salazar, que deteve os poderes por mais de quatro décadas – 45 anos salvo erro.
Mas não vou por aí. O mundo é o que nos interessa nestas andanças de positivo e negativo. Principalmente agora com esta globalização desenfreada e selvagem que é fruto do capitalismo parido por gentes de excessiva ganância que há em todos os países mas sobremaneira nos Estados Unidos da América e na União Europeia – perfilando-se a China para aquele pódio.
Personalidade positiva: Papa Francisco, pelo que diz, pelo que influencia, pelo que denuncia (até dentro da própria igreja), pelo destemor, pela humildade e simplicidade, etc. Dos bons, dos positivos há sempre pouco a dizer.
Personalidade negativa: Obama. O presidente dos EUA exerceu o cargo tal qual um charlatão a exibir o Nobel da Paz. As guerras proliferaram nos seus mandatos. As guerras e os fornecimentos de armamento a terroristas, como é o caso do ISIS ou Estado Islâmico. É evidente que não foi Obama em pessoa que assumiu a tarefa de tais fornecimentos e milhões de dólares de oferendas mas sim a sua ex-secretária de estado Hillary Clinton e outros.
Foi ainda nos “ateliers” de Obama que a CIA e uma barda de agências similares, associados aos senhores da guerra, criaram uma Primavera Árabe que posicionou de pantanas o norte de África, a África sub-saariana e a Síria (para não nomear mais). Vai daí atacou com uma “bomba inteligente” a Europa por via das moles imensas de refugiados. Europa que já estava (e ainda está) enfraquecida com uma crise económico-financeira despoletada igualmente nos EUA. Até parece que foi tudo orquestrado, não parece? Pois foi. A Europa estava a ter créditos diplomáticos e outros pelo mundo inteiro. Os EUA estavam a caminho de se apagarem. Urgia “apagar” o adversário europeu e, consequentemente outros mais a leste. Dividir para reinar.
Para de algum modo completar o ramalhete daquele Obama o campo de terror de Guantánamo não encerrou, ao contrário do prometido e assumido por Obama. Nem foram apuradas responsabilidades nos raptos que as secretas e as forças armadas norte-americanas cometeram pelo mundo fora, transportando-as via aérea para Guantánamo (escalas também em Portugal), onde detiveram e ainda detêm imensos cidadãos de várias nacionalidades sem culpa formada, ao abrigo de procedimentos em que Obama acaba por ser cúmplice, visto que não repôs a legalidade que se impunha e impõe, de acordo com as leis internacionais. Nobel da Paz? Só se for de pechisbeque.
Guardemos uma consolação acerca do positivo e do negativo. Se não existissem não teríamos electricidade, andaríamos no lusco-fusco e às escuras, daríamos imensas cabeçadas uns nos outros. Pois.”
Eugénio Costa Almeida
(Investigador e especialista em Assuntos Africanos)
EDUARDO DOS SANTOS AINDA MANDA?
“A equipa redactorial do Folha 8 elegeu como as duas figuras do ano de 2016. Marcolino Moco pela positiva; e o presidente José Eduardo dos Santos, pela negativa, e sobre isso solicitaram, enquanto angolano e investigador, a minha opinião.
E é nesta condição, e unicamente nesta condição, que tentarei transmitir a minha opinião a estas duas importantes figuras do panorama político nacional.
Deixem-me que diga que haveria outras personalidades – individuais e, ou, colectivas – que poderia ter encimado a lista da redacção do jornal Folha 8. Não sei quais foram os critérios que a equipa levou a escolher estes – por certo que o arquivo permite-lhes melhor que a mim definir os escolhidos – e é sobre estes que opinarei, ainda que possa não deixar de dar algumas sugestões que, segundo a minha convicção poderiam ser, também elas, os números “um”.
Não foi só este ano que Marcolino Moco tem emergido como uma das nossas figuras políticas e académicas nacionais mais importantes. É certo que, indiscutivelmente, a sua tomada de posição face a certos e pouco atraentes desequilíbrios sociais e políticos ocorridos no ano que findou terá levado que emergisse como a figura número um.
Destaca(ra)m-se as críticas e sugestões que tem feito no seu portal para uma clara melhoria na vida política nacional, mas, parece-me que foi a sua frontal tomada de posição face a uma manifestação – mais uma que ocorreu durante o ano no país – de contestação à nomeação da engenheira Isabel dos Santos para dirigir a maior empresa produtora e exportadora nacional, a Sonangol, que o fez suplantar personalidades como o “caso 15+2” ou a ONG, OMUNGA (na área colectiva), ou o advogado e jornalista Willian Tonet (santos em casa também podem e devem fazer milagres), o jornalista, escritor e professor universitário Ismael Mateus, ou Luisete Macedo Araújo que frontalmente critica a forma de eleição presidencial e já se disponibilizou, para, uma vez mais se candidatar por uma organização política onde ela possa transmitir as suas ideias política para o País.
Se pela positiva poderia haver mais candidatos a liderarem a lista, também pela negativa essa posição poderia ter, e talvez até com mais consistência, outras personalidades.
O Presidente José Eduardo dos Santos foi o escolhido. Pessoalmente não sei se foi a escolha mais acertada – repito, estamos a abordar o ano 2016 – dada a sua tomada de posição em termos de futuro, como foi o caso de sair da vida activa política em 2018 e já não se candidatar às eleições deste ano; é certo que, como São Tomé, estaremos cá para verificar se a sua vontade imperou. Foi a escolha do Folha 8 e respeito-a.
Creio que a escolha deveu-se á forma como o País tem sido gerido em termos políticos e sociais – será que ainda é o engenheiro José Eduardo dos Santos, eleito, constitucionalmente e por via indirecta, Presidente da República, face às constantes idas ao estrangeiro por razões de saúde (ainda que oficialmente, digam que é de descanso, mas que são as próprias autoridades locais onde o Presidente vai “descansar” que dizem ser “saúde”) que gere o País, ou os que o ladeiam como estriges? – ou a nomeação, independentemente das suas reconhecidas qualidades, enquanto gestora, da engenheira Isabel dos Santos, sua filha?
Ora, tal como para liderar a lista das figuras mais positivas poderiam sugerir outras personalidades, nesta lista da personalidade mais negativa, há uma que para mim, pelos impactos económicos, sociais e políticos que acarretou encimaria, indiscutivelmente, a lista da personalidade mais negativa de 2016: a Sonangol.
E porque não, também, a figura colectiva que mais tem vindo a crescer – e exponencialmente quando em véspera de eleições – negativamente para o desenvolvimento económico, social e político do País, e que são reconhecidos como “Bajús” e que o cartunista Sérgio Piçarra tão bem denuncia nas suas pranchas?
E houve outras personalidades individuais que pautaram por atitudes negativas na gestão da coisa pública ou pela imagem muitas vezes negativas que fizeram transmitir através da desculpa – que já começa a ser esfarrapada, por, na realidade, ser um sacudir de águas e responsabilidades – de que tudo o que não é bom se deve a “ordens superiores”. E estas têm sempre um visado…”
Luís Faúlho Rasoilo
(Funcionário Público – Portugal)
A VOZ DOS 20 MILHÕES
“E ntendeu o Folha 8, e muito bem, eleger, pela primeira vez, as Figuras Nacionais do ano que passou – uma pela positiva, outra pela negativa. É uma iniciativa com carácter meramente simbólico, digo eu, mas é também de simbolismos, por muito irrelevantes que pareçam, que se leva uma sociedade civil a olhar para dentro de si mesma e a procurar nela quem foram os seus melhores e os seus piores no ano que passa e, a manter-se esta iniciativa, nos anos que se seguirão – uma democracia plena também se constrói assim.
E como Angola – e a sua sociedade civil adormecida, creio, porque amordaçada – precisa de actos e gestos – mesmo simbólicos ajudam – que a levem a libertar-se do nepotismo há muito reinante – e o que é de mais é moléstia!
É muito difícil a um português de Angola (não, não é ressabiamento! Não, não é neocolonialismo) falar de Angola, dessa terra maravilhosa, dessa terra apaixonante, dessa terra de afectos quentes e boas gentes, porque um português de Angola sofre e revolta-se com o abandono a que é votado aquele Povo, que vê os seus imensos recursos irem para os bolsos de gente sem escrúpulos, que recebeu de mão beijada os destinos dessa terra – e que terrível destino lhe estava reservada. Até quando?
A Redacção do Folha 8 escolheu, pelo lado positivo, como Figura do Ano 2016 Marcolino Moco, e, pelo lado negativo (como não podia deixar de ser!), José Eduardo dos Santos. Escolhas acertadas e, pelo lado negativo, acertadíssima! Faço votos de que, no final deste ano, não estejamos novamente aqui a elegê-lo (e à sua família e ao seu séquito bajulador-interesseiro) como a figura mais negativa do ano!
Quanto a Marcolino Moco, que a sua escolha para Figura Nacional do Ano 2016 seja um contributo, um incentivo, para que continue, mais forte, a desmascarar, com todas as letras e todos os piores adjectivos, os podres de um regime corrupto e cleptocrata.
Que Marcolino Moco seja a voz dos vinte milhões de pobres angolanos. Que Marcolino Moco seja um dos ‘porta-estandartes’ daqueles 20 milhões que, no dia-a-dia, não vivem sobrevivem – há, pelo menos, 37 anos! Que Marcolino Moco continue a lutar por um melhor País, mais digno, mais igual, logo, mais justo. Como dizia Ortega y Gasset: “Eu sou eu e a minha circunstância e se não a salvo a ela, não me salvo eu.”
Angola, de Portugal espera tudo de bom, dos políticos portugueses não!
Que este seja o Ano da esperança.”
José Filipe Rodrigues
(Engenheiro, Poeta e Contista. Natural do Huambo reside nos EUA)
DO POVO, COM O POVO, PARA O POVO
“A Direcção do Folha 8 pediu-nos um comentário acerca da escolha de Marcolino Moco como a personalidade do ano e a selecção de José Eduardo dos Santos como a pior figura política de 2016, em Angola.
Há uma grande diferença entre um doutorado pela Faculdade de Direito de Lisboa e alguém que escolhe para seu sucessor um mestre em Ciências Históricas pelo Instituto Superior Lenine. Essa grande diferença reside na abertura de espírito para a ciência como catalisador de melhoria, o que é o caso do Doutor Marcolino Moco, e uma predisposição para a subserviência e manipulação dos factos, objectivando a domesticação das Ciências Sociais, usando sofismas, demasiado primários, para benefício pessoal e dos seus.
Há uma grande diferença entre alguém que tenta promover a abrangência nas sinergias de planeamento social, com o incentivo para o desenvolvimento de uma cultura de líderes e um outro que faz o culto da personalidade, com atitudes e comportamentos promotores do medo, em vez do respeito, para a construção de uma hierarquia de muito chefes déspotas, fieis e obedientes seguidores de um poder absoluto concentrado numa só pessoa, com uma personalidade insegura e, muitas vezes, cobarde, ao exercer o poder pela força em vez de optar pela lógica e pela razão.
Há uma grande diferença entre alguém que defende para Angola uma cultura democrática, de paz e justiça social, de acordo com os padrões dos países mais desenvolvidos e alguém que continua a defender a concentração do poder numa oligarquia retrógrada, promotora de grandes amplitudes nas assimetrias sociais, obediente a um modelo de insucesso, como demonstrou a falência da visão imperial da União Soviética e da Angola das últimas quarto décadas.
Há uma diferença entre um promotor da cooperação para a melhoria das mentalidades e alguém que continua a defender um paternalismo feudal, inibidor do desenvolvimento de mentalidades adultas, altruístas e holísticas.
A maior de todas as diferenças entre Marcolino Moco e José Eduardo dos Santos reside no facto de Marcolino Moco pretender uma Angola para os angolanos enquanto José Eduardo dos Santos pretende uma Angola só para si e para os seus familiares e amigos.
Marcolino Moco tenta promover e construir a esperança. José Eduardo dos Santos tem uma visão paternalista de Angola e, como é do conhecimento geral, o paternalismo torna as pessoas dependentes, incapazes de desenvolverem um pensamento crítico para a criação de novos paradigmas, visando a melhoria das culturas e da civilização. José Eduardo dos Santos e o MPLA insistem teimosamente nos paradigmas muito velhos, característicos dos sistemas políticos muito anquilosados, servindo-se da mentira, dos sofismas e ambiguidades para se manter no poder.
Os angolanos já nada esperam de José Eduardo dos Santos, nem um pedido de desculpa por ter ocupado o poder por tanto tempo.
Marcolino Moco apresenta-se como alguém que pretende representar o povo, alguém que o povo deve respeitar e nunca temer, as características necessárias para uma boa liderança.
Marcolino Moco desafia o uso da inteligência. José Eduardo dos Santos está a conduzir Angola para a insolvência.”
[…] no semanário Folha 8, edição 1288, de 7 e Janeiro de 2017, página 18 (https://jornalf8.net/2017/moco-pelo-povo-jes-povo/) – títulos da responsabilidade editorial […]
[…] post foi originalmente publicado neste […]